Diabetes Tipo 1 x Viroses

O diabetes tipo 1 (DM1) é o distúrbio metabólico crônico mais comum em crianças. Os fatores epigenéticos e ambientais são capazes de alterar a penetrância de genes de susceptibilidade principais ou capazes de aumentar a penetrância de genes de baixo risco, então são atualmente considerados responsáveis por desencadear a autoimunidade e o desenvolvimento de DM1.

Muitos estudos demonstraram que o DM1 é uma doença poligênica na qual manifestações são condicionadas por diferentes combinações de genes de susceptibilidade. Os principais loci gênicos associados à suscetibilidade à DM1 estão dentro da região do antígeno leucocitário humano (HLA) no cromossomo 6. Os alelos da classe II, em particular, alelos específicos nos locos DRB1, DQA1 e DQB1, mostraram-se fortemente associados à DM1.

Além da genética, acredita-se que outros fatores influenciem a taxa e o tempo de início da doença em indivíduos geneticamente predispostos. Componentes da dieta de uma criança (incluindo leite de vaca e glúten), aumento da idade materna, aumento da taxa de crescimento pós-natal, deficiência de vitamina D, exposição a produtos químicos e modificações da microbiota intestinal foram associados à DM1.

Vários estudos relataram um padrão sazonal de início de DM1. Em ambos os hemisférios Norte e Sul, mais casos de DM1 são diagnosticados durante os meses frios. Como as infecções virais são significativamente mais comuns no inverno do que no verão, isso foi considerado evidência indireta do papel que os vírus desempenham no desencadeamento do desenvolvimento de DM1.

Rasmussen et al, 2011. relataram que a taxa de risco estimada para autoimunidade de ilhotas na primeira infância em crianças geneticamente predispostas era significativamente maior quando elas sofriam de infecções respiratórias graves, provavelmente virais. Além disso, Beyerlein et al 2013 e 2016, descobriram que infecções virais recorrentes do trato respiratório no primeiro semestre de vida estavam associadas à autoimunidade das ilhotas e ao desenvolvimento de DM1 a aproximadamente 8 anos de idade.

Uma potencial associação entre vírus e a DM1 é ainda sugerida pela evidência de que alguns vírus, particularmente os coxsackievírus, podem induzir DM1 em animais experimentais e podem ser isolados do pâncreas de pacientes com doença de início recente (Dotta F. etal, 2007).


Enterovírus- Cocksakie

Os enterovírus (EVs) poderiam ser detectados com mais frequência no sangue de pacientes no estágio de ativação da autoimunidade anti-ilhota (local onde estão as células beta) do que no sangue de pessoas saudáveis. Além disso, foi relatado que a infecção por EV precedia a autoimunidade das ilhotas em mais de um ano, como evidenciado pela detecção mais frequente desses vírus nas fezes de crianças que apresentaram autoanticorpos para ilhotas pancreáticas, do que naqueles de indivíduos saudáveis.


Infecção viral conhecida como síndrome mão-pé-boca

COMO OS VÍRUS PODEM INFLUENCIAR A FUNÇÃO CÉLULA BETA PANCREÁTICA?

Várias hipóteses foram feitas para explicar as possíveis interações entre os vírus e o hospedeiro que podem levar à DM1. A mais aceita é a do efeito indireto, estimulando a ação do sistema imunológico sobre as células beta:

1-Os vírus podem, como os coxsackievirus (enterovírus), podem persistir por vários meses em tecidos humanos sem causar danos histológicos imediatos, mas uma resposta imune capaz de danificar o tecido pancreático é suposta.

2-Em camundongos transgênicos, foi demonstrado que após a infecção com um enterovírus, a resposta imunológica contra a células infectadas se apresentava superativada – com moléculas do complexo principal de histocompatibilidade (MHC) de classe I, interferons e outros marcadores imunes nas células beta significativamente suprarregulados(Chapman Nm et al, 2008, vonHerrath MGet al 2004).

3- Outro aspecto importante é em relação ao mimetismo molecular: supõe-se que, como em outras doenças auto-imunes, como a febre reumática, uma possível reação cruzada entre componentes de um vírus e algumas estruturas de células beta pancreáticas pode também ocorrer provocando a autoimunidade.A confirmação do potencial papel do mimetismo molecular foi posteriormente fornecida por estudos envolvendo diferentes vírus. Em particular, foi relatada potencial reatividade cruzada entre os componentes estruturais do coxsackievírus, do citomegalovírus humano com o componentes da célula beta, ácido glutâmico descarboxilase bem como entre a proteína VP1 do enterovírus e o componente beta-tirosina fosfatase IA -2 (Harkonen et al, 2002).

3-Mas evidências sugerem que o mimestimo molecular não deflagra, mas acelera a autoimunidade. Supõe-se que as proteínas de células beta, liberadas durante a infecção viral são capturadas por células apresentadoras de antígenos e neste ambiente de inflamação acabam por ativar linfócitos autorreativos contra estas células da ilhota pancreática.

Por Christine Rolke

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