Após o choque inicial do diagnóstico de diabetes, é preciso arregaçar as mangas e aprender a lidar e a conviver da melhor forma com essa doença.
Com o esforço voltado para o aprendizado, a pessoa com diagnóstico de diabetes terá as mesmas possibilidades que uma pessoa sem diabetes. Sim, é possível praticar atividade física, brincar e até mesmo tomar um sorvete com amigos – ah, por essa você não esperava, certo?!
A alimentação voltada para pessoas com DM (diabetes mellitus) deve ser tão saudável quanto a alimentação voltada para qualquer pessoa. Sem radicalismos, todos têm a possibilidade de sair da dieta esporadicamente, e no caso do portador de diabetes, a regra é a mesma. A única questão que o diferencia dos demais, é a necessidade de preparar seu organismo para determinado alimento previamente, além do controle glicêmico contínuo.
Para que a taxa glicêmica – quantidade de “açúcar” no sangue – se mantenha sob controle, os alimentos e suas composições devem ser observados, além de outros fatores como o tipo de insulina a ser utilizada, o horário da alimentação, entre outros pontos que serão abordados a frente.
Macronutrientes
Para entender os alimentos, precisamos entender suas composições. Os alimentos são formados principalmente por macronutrientes. Macronutrientes são basicamente as fontes energéticas dos alimentos, e se referem à carboidratos, proteínas e gorduras. Os alimentos também são compostos por nutrientes, mas os macronutrientes são aqueles que irão interferir diretamente na taxa glicêmica. Cada grama de carboidrato ou proteína presente no alimento, equivale à 4 kcal, já uma grama de gordura equivale à 9 kcal. Alguns exemplos de alimentos ricos em determinados macronutrientes:
1-Carboidratos
Principal fonte energética do nosso organismo.
Entre os alimentos ricos em carboidratos encontram-se: macarrão, pães, batata, batata doce, mandioca, mandioquinha, grão de bico, lentilha, cará, pinhão, farinhas, arroz, frutas, mel, geleias, aveia e leite.
2- Proteínas
Fonte construtora do organismo. Os alimentos ricos em proteínas são os de origem animal (carne vermelha, aves e peixes).
Entre a leguminosas que apresentam teores significativos de proteínas estão os feijões, a soja, lentilha, ervilha, nozes e amêndoas.
3-Gorduras
Macronutriente mais energético. Alimentos fonte ou ricos em gorduras: óleos, manteigas, margarinas, azeites, castanhas, nozes, bolos, tortas, doces, maioneses, molhos e cremes.
Como os macronutrientes atuam na glicemia?
Agora que conhecemos os principais componentes dos alimentos, precisamos entender propriamente como eles interferem na taxa glicêmica. Cada macronutriente tem uma velocidade de conversão que determina o tempo que gera alterações na glicemia. Entretanto, o foco deve ser sempre voltado para o carboidrato.
Os carboidratos são os macronutrientes que mais elevam a glicemia e por isso precisamos considerar que toda quantidade ingerida de carboidratos se transforma em glicose, o nosso conhecido “açúcar no sangue”. Outro ponto importante é a velocidade de conversão.
O carboidrato se transforma em glicose no período de 15 minutos até duas horas após a ingestão alimentar, enquanto os outros macronutrientes demoram um tempo maior. Esse quesito interfere diretamente na quantidade de insulina e no tipo de insulina a ser aplicada.
Para as proteínas 30 a 60% é convertida em glicose em 3 a 4 horas após a ingestão.
Da gordura ingerida, 10% é convertida em glicose em aproximadamente 5h após a ingestão.
Isso significa que para manter a glicemia controlada você deve saber fazer a contagem de insulina para carboidrato considerando a proteína e a gordura que vais ingerir, principalmente se for a um churrasco ou pizzaria.
Rótulo de alimentos
Alimentos industrializados devem apresentar obrigatoriamente a tabela nutricional, onde estarão dados como: o tamanho da porção, a quantidade calórica referente à porção, a porcentagem do componente na porção apresentada e seu percentual de acordo com os valores diários de referência.
Em um rótulo de alimento temos várias informações como descrito acima, mas as principais se referem aos macronutrientes que devem ser contabilizados antes da ingestão para o paciente com diabetes.
No exemplo ao lado: você vai comer uma fatia do pão de forma que apresenta a tabela ao lado. Logo teremos ingerido propriamente:
- 104 kcal
- 21,2 g de carboidratos
- 0,5 g de proteínas
- 5,2 g de gorduras.
Os valores a serem levados em consideração correspondem a metade dos apresentados na tabela, correto? Sim, e isso está certo, pois a porção ingerida é a metade da utilizada como porção no rótulo, logo, é preciso dividir a quantidade de macronutrientes à metade também. Mas se você vai ingerir as duas fatias de pão de forma, que é a porção da tabela, leve em conta exatamente o que diz a tabela nutricional.
Curiosidade: você sabe a diferença entre os alimentos light, diet e zero?
Os alimentos Light6 são aqueles que apresentam a quantidade de algum nutriente ou valor energético reduzida quando comparado a um alimento convencional. Um produto por ser considerado light se tiver redução mínima de 25% no valor energético ou em um dos nutrientes, quando comparado a produtos similares.
Os alimentos Diet6 são totalmente isentos de algum ingrediente e destinados a dietas com restrição de nutrientes como carboidratos, gorduras, proteínas, sódio. Exemplos: geleia sem adição de açúcar.
Os alimentos Zero7 são os que contêm uma quantidade não significativa de algum item em relação ao tradicional. O refrigerante light ou zero tem zero caloria, mas a quantidade de sódio é maior.
Como avalio os macronutrientes de alimentos não industrializados?
Para os alimentos não industrializados como frutas e legumes, é preciso sempre utilizar como referência um livrinho com as quantidades de nutrientes de cada alimento, fornecida, por exemplo, pelo ministério da Saúde5 (clique aqui: https://www.diabetes.org.br/publico/images/manual-de-contagem-de-carboidrato2016.pdf) ou mesmo através de aplicativos de smartphones como o Fat secret e Dieta e Saúde, disponíveis para Android e IOS.
A contagem de carboidratos depende do conhecimento de utilização de uma balança de alimentos, ferramenta importantíssima para quem precisa contar macronutrientes. Saber utilizar corretamente a balança está diretamente relacionada com o sucesso da manutenção da taxa glicêmica.
Afinal, a quantidade a ser ingerida de determinado alimento não é engessada e deve ser adaptada a cada refeição.
Como utilizar a balança digital de alimentos
Para o cálculo correto de carboidratos e outros macronutrientes é preciso utilizar de forma correta as funcionalidades de uma balança alimentar digital. Em praticamente todos os modelos, encontramos um botão com a nomenclatura “tara” ou “tare”.
Ele serve para que você consiga pesar especificamente o alimento, sem influência do recipiente em que ele se encontra. É claro que se você for pesar o alimento (como por exemplo uma maçã) diretamente na balança, sem recipiente, essa funcionalidade não será necessária, contudo, sabemos que na maioria dos casos, o recipiente estará junto ao alimento na pesagem.
A atenção na pesagem do alimento é fundamental, para que a quantidade ingerida seja realmente adequada a quantidade de insulina aplicada e assim, não ocorra hipoglicemia (redução além do normal de glicose no sangue) ou hiperglicemia (quantidade alta de glicose no sangue).
Como utilizamos a função tara? Antes de pesar o alimento com o recipiente é preciso pesar apenas o recipiente sem o alimento. Coloque apenas o recipiente na balança, aperte o botão “tara” e você observará que o peso do recipiente marcará “0 g”. Nesse momento, o alimento pode ser colocado no recipiente e em seguida pesado. O valor que aparecerá será referente apenas ao alimento, facilitando assim, o controle adequado da ingesta.
Por Rayani Stein
Revisão de Christine Rolke
Referências:
- https://www.diabetes.org.br/profissionais/images/pdf/manual-nutricao.pdf
- http://www.maisequilibrio.com.br/nutricao/os-macronutrientes-quem-sao-eles-2-1-1-221.html
- https://www.portalped.com.br/especialidades-da-pediatria/endocrinologia/contagem-de-carboidratos-para-diabeticos-como-funciona/
- http://portal.anvisa.gov.br/documents/33916/389979/Rotulagem+Nutricional+Obrigat%C3%B3ria+Manual+de+Orienta%C3%A7%C3%A3o+%C3%A0s+Ind%C3%BAstrias+de+Alimentos/ae72b30a-07af-42e2-8b76-10ff96b64ca4
- https://www.diabetes.org.br/publico/images/manual-de-contagem-de-carboidrato2016.pdf
- http://portal.anvisa.gov.br/resultado-de-busca?p_p_id=101&p_p_lifecycle=0&p_p_state=maximized&p_p_mode=view&p_p_col_id=column-1&p_p_col_count=1&_101_struts_action=%2Fasset_publisher%2Fview_content&_101_assetEntryId=2864203&_101_type=content&_101_groupId=219201&_101_urlTitle=diet-e-light&inheritRedirect=true
- http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2011/06/especialistas-explicam-diferencas-entre-alimentos-diet-light-e-zero.html
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